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Povo Indigena Javaé   Quem São


Povo Indigena Javaé
Uma trajetória de constituição como povo indígena com características próprias

Os povos Inỹ/Javaé se autodenominam Berò Biawa Mahãdu, sendo na língua materna Inỹ rybé, berò é igual a rio, biawa significando companheiro ou amigo e mahãdu é igual a povos ou povo, com o qual significa “rio companheiro” ou “amigos do rio”. Os povos Inỹ/Javaé têm uma trajetória de constituição como povo indígena com características próprias, tais como a língua, cultura e os rituais. A população dos povos Inỹ/Javaé é composta por 1.542 indígenas, de acordo com o censo demográfico 2010, realizado pelo IBGE.

Uma cultura rica e diversificadas: Explorando os Rituais e a Cosmologia dos Povos Inỹ/Javaé

A cultura e os rituais dos povos Inỹ/Javaé são ricas e diversificadas, identificadas nas organizações social e cultura e, principalmente, nos processos de realização cosmológicas, desenvolvidas nos rituais míticos e cerimônias cotidianas, por meio de saberes/conhecimentos que levam a uma forte conexão com seu território e de seus elementos da natureza (de seres humanos e não humanos), que remetem aos ancestrais e antepassados.

Povo Indigena Javaé

Povo Indigena Javaé  Onde Estão


Tecendo Histórias: A Vida dos Povos Inỹ/Javaé na Ilha do Bananal

Os povos Inỹ/Javaé habitam a Ilha do Bananal, – conhecida por eles como Inỹ Olona (o lugar onde surgiram os Inỹ) ou Ijata Olona (o lugar onde surgiram as bananas) –, na Terra Indígena Parque do Araguaia e na Terra Indígena Inãwébohona, no município de Formoso do Araguaia, estado do Tocantins. A maioria deles vive, em dezoito (18) aldeias, e se localiza na parte leste das margens do rio Javaés (Berò biawa – rio companheiro) e o interior da Ilha do Bananal e afluentes desse rio.

Povo Indigena Javaé
Povo Indigena Javaé
Fluxo de Histórias: A Eterna Ligação dos Povos Inỹ/Javaé com o Rio Javaés

Assim como os povos Inỹ/Javaé, também, são habitantes na Ilha do Bananal, os povos indígenas considerados Inỹ, os povos Karajá, que habitam as margens do rio Araguaia (Berohokỹ – grande rio), e os Xambioá (Karajá do Norte), que vivem às margens do rio Araguaia, ao norte da Ilha do Bananal, bem próximo ao estado do Pará. Estes povos são igualmente como os povos Inỹ/Javaé moradores imemoriais da Ilha do Bananal e das terras adjacentes e em seu entorno.

Destaca-se que o rio Javaés leva o nome dos povos Inỹ/Javaé, pela importância e significado deste, com a qual tem explicação e muita representatividade na sua origem e formação cultural e ancestral.

É notório o fato de que o lugar e espaço, que é a Ilha do Bananal, onde moram e habitam os povos Inỹ/Javaé e os povos Inỹ Karajá e Xambioá (Karajá do Norte), têm relação de conexão e ligação intrínseca e extrínseca com estes povos, pois possuem e desenvolvem práticas ancestrais e tradicionais pelos rituais míticos indis¬sociáveis das vidas humanas e não hu¬manas que ali habitam numa trama de sentidos e significados continuamente construídos, vínculos territoriais e de parentesco, marcas de identidade e pertencimento próprios para o fortalecimento das etnias, manutenção de seus modos de vida para a produção social e cultural e, ainda reprodução física e cultural – respeitando-os, além de lutas políticas pela recuperação de territórios, ampliação e efetivação dos seus direitos. Direitos estes estabelecidos no texto constitucional da Carta Magna brasileira de 1988 (Constituição da República Federativa do Brasil de 1988), em seu arcabouço normativo com a qual preceitua o reco¬nhecimento do caráter pluriétnico da sociedade brasileira e, desta forma, a especificidade dos povos indígenas, os direitos originários dos povos indí¬genas às terras tradicionalmente ocu¬padas, seus usos, costumes, línguas e organização social, de acordo com o art. 231, assim como o reconhecimento da capacida¬de civil e autodeterminação dos povos indígenas, conforme o art. 232 (Brasil, 2016).

Povo Indigena Javaé  Como Vivem


Povo Indigena Javaé
Tradições Vividas: Organização Social e Costumes dos Povos Inỹ/Javaé na Ilha do Bananal

Os modos de vida dos povos Inỹ/Javaé são vivenciados, em dezoito (18) aldeias, localizadas nas Terras Indígenas Parque do Araguaia e Inãwébohona, do território da Ilha do Bananal, nos quais em cada uma das aldeias apresenta um sistema próprio de organização social relacionados a divisão entre metades cerimoniais, classes de idade, a endogamia de aldeia e de parentela, a uxorilocalidade, o casamento preferencial com primos cruzados bilaterais distantes, referindo-se aos afins com tecnônimos, além de casamentos interétnicos, atualmente flexibilizados, mas são desaprovados.

Ressalta-se que todas as aldeias dos povos Inỹ/Javaé são conhecidas pelos seus fundadores e descendentes (rikòkòrè). Levando em consideração que cada uma das aldeias tem sistema próprio, tradições culturais, mitos e história aparecem entrelaçados a todo momento, em suas ações e atividades cotidianas.

Quanto a estrutura das casas nas aldeias em vivem os povos Inỹ/Javaé, em sua maioria, é construída com troncos de madeiras e cobertas com palhas, mas outras estruturas de moradia, atualmente, como as mescladas de paredes de alvenaria, troncos de madeira e coberturas de palha e das construídas de alvenaria (tijolos) e cobertura de telhas.

Aspectos da produção, coleta e preparo de alimentos, muitos povos Inỹ/Javaé, ainda, mantêm um estilo de vida tradicional, baseados na agricultura de subsistência cultivando mandioca, milho, cana-de-açúcar, feijão, batata-doce, bananas, mamão, melancia, como também, coletando manga, pequi, murici, macaúba, entre outros frutos; da pesca de tartarugas e peixes como tucunaré, jaraqui e pacu para o consumo são intensos;; e, da caça de porcão (queixada), caititu e pato do mato. Estes produtos cultivados, coletados, pescados e caçados são componentes essenciais da dieta alimentar desses povos. Entretanto, por conta do contato com a sociedade envolvente, nas zonas urbanas das cidades de Formoso do Araguaia (70 km) e Gurupi (120 km), os indígenas Javaé estão acessando e consumindo produtos e alimentos industrializados e processados, sendo uma realizada atual, fazendo com que façam parte de suas dietas alimentares.

Povo Indigena Javaé

Os povos Inỹ/Javaé possuem uma rica e diversificada cultura tradicional, na qual é vivenciada nos modos de vida e na cosmologia relacionadas, respectivamente, com a organização e relação sociais – referente à chefias e lideranças que realizam interlocuções e mediações internas e/ou externas, dentro de aspectos administrativos burocráticos e políticos organizacionais, a exemplo dos hãwawèdu (aquele que primeiro chegou local e fundou a aldeia) e ixỹwèdu (aquele que sucede o hãwawèdu e torna-se responsável, podendo ser pela hereditariedade, isto é, pelo filho mais velho, mas isso é relativo) – nomeado como cacique pelo ocidente – se tornou responsável pelas relações estabelecidas com a sociedade envolvente, representando um importante poder político perante a comunidade e que participa das reuniões políticas com os representantes do governo, autoriza pesquisas e negocia a entrada nas terras indígenas, na Ilha do Bananal – apesar da autoridade que representa, ele tem pouca influência nas atividades cerimoniais, as quais são de responsabilidade do chefe ritual, do iòlò (liderança ocupada por alguém que tem a missão de levar a paz a comunidade, interferindo e auxiliando nos conflitos internos), sendo este destacado pelos povos Inỹ/Javaé, dentro das tradições, a chefia hereditária mais prestigiada entre todos os tipos de chefia; e, as práticas rituais das cerimoniais sagradas – concernente ao ixỹtyby “chefia ritual”, pois como é o principal ator dentro das questões cerimoniais na aldeia, é o responsável por conduzir as festas rituais do hetohokỹ – ritual de iniciação masculina dos Inỹ/Javaé, sendo que para ocupar esta chefia, é necessário que o ixỹtyby tenha um conhecimento aprofundado sobre a mitologia Javaé, devido à complexidade e dos detalhes que constituem os diversos rituais e músicas, assim como, é ele quem dita a ordem espacial e temporal dos procedimentos realizados durante ritual hetohokỹ.

Outros princípios regem a organização social dos povos Inỹ/Javaé se relacionam a uxorilocalidade e a primogenitura. No caso da uxorilocalidade, esta marca os laços de responsabilidade do homem com seus afins, pois ao se casar o homem se muda para a casa da família de sua esposa, passando a ter um papel fundamental no cuidado e sustento da casa. Os casamentos interétnicos são evitados. No entanto, por motivos de aglutinação com outras etnias e contato com a sociedade envolvente, atualmente houve um aumento de casamentos interétnicos entre os povos Inỹ/Javaé com outras etnias indígenas como Karajá, Tuxá e, também, com não indígenas (tori).

Enquanto a primogenitura se refere a transmissão dos bens culturais, como identidades sociais (aruanãs – humanos mascarados mágicos/míticos e não sociais que, na maior parte, vivem no fundo das águas, e que comparecem aos rituais realizados pelos humanos terrestres, os povos Inỹ/Javaé e estes expressão com performances feitas de música, dança e ornamentos que inundam as relações sociais) e cargos cerimoniais. Destaca-se, ainda, que essa forma de transmissão de identidades sociais e bens culturais cria uma diferenciação hierárquica dentro da comunidade social como na definição dos ocupantes de terminados cargos de chefia e liderança, para assim ser transferida ao filho primogênito dando continuidade aos bens/identidades que geram prestígio social à família, além da produção e reprodução sociais e culturais.

Povo Indigena Javaé  Sua Língua


Raízes Linguísticas: Explorando o Inỹrybè dos Povos Inỹ/Javaé

A língua indígena dos povos Inỹ/Javaé é o Inỹrybè, pertencente ao tronco linguístico Macro-Jê. Estes povos se autoproclamam Inỹ, “ser humano” ou “gente”. Inỹrybè é o nome tradicional da língua indígena denominando Inỹ (gente) e rybè (língua). Outra explicação que os povos Inỹ/Javaé refletem e dão significados acerca da língua inỹrybè, diz respeito a forma de falar (dialetal), propriamente Javaé, literalmente, “o caminho (ry) da água (bè) na gente (inỹ).

Povo Indigena Javaé
Povo Indigena Javaé
Vozes Ancestrais Silenciadas: O Futuro Incerto da Língua Inỹrybè entre os Povos Inỹ/Javaé

Esta língua é amplamente falada nas aldeias dos povos Inỹ/Javaé, principalmente, pelos indígenas mais velhos e anciãos. No entanto, por conta da influência cultural externa da sociedade envolvente com o contato da língua portuguesa, os jovens indígenas estão deixando de falar e compreender o Inỹrybè e, assim sendo, pode-se considerar que é uma língua ameaçada. O Inỹrybè é extremamente importância na cultura dos povos Inỹ/Javaé, pois representa a sua identidade e o seu pertencimento nas relações sociais e a sua preservação no repasse e na transmissão dos saberes/conhecimentos tradicionais e ancestrais da cultura dos povos Inỹ/Javaé.

Os povos Inỹ/Javaé são bilíngues, pois falam o Inỹrybè amplamente nas aldeias localizadas nas terras indígenas da Ilha do Bananal, como primeiro idioma e a língua portuguesa para se comunicar e realizar atividades externas (fora das aldeias) necessárias com os não indígenas.